O adolescente Miguel Oliveira, que se apresenta como pastor, missionário e profeta, se tornou alvo de intensa polêmica após vídeos de suas pregações viralizarem nas redes sociais. Com linguagem carregada de promessas de cura e prosperidade, o jovem reúne multidões em cultos pelo país, ao mesmo tempo em que enfrenta ameaças de morte, xingamentos e forte rejeição, inclusive dentro do próprio segmento evangélico.
Nas redes, muitos acusam Miguel de usar supostos dons espirituais para se promover e arrecadar dinheiro. Críticos apontam que ele simula o dom de línguas e faz apelos agressivos por doações via Pix, associando a quantia doada a bênçãos divinas.
“Quero agora quatro pessoas aqui no altar para doar R$ 1 mil. A velocidade com que você vem é a velocidade com que o milagre será realizado”, declarou em um dos cultos.
Outro ponto que gerou revolta foi o momento em que Miguel rasgou publicamente o laudo de uma mulher diagnosticada com leucemia, afirmando curá-la instantaneamente.
“Eu rasgo o câncer, filtro o seu sangue e curo a leucemia”, disse, enquanto a fiel chorava emocionada.
A cena provocou indignação de internautas e profissionais da saúde. “Isso é crime. Tem gente que acredita, larga o tratamento e morre”, escreveu um usuário. A exposição de promessas milagrosas, sem qualquer base médica ou supervisão institucional, levanta sérias preocupações sobre a saúde física e emocional de pessoas vulneráveis.
Apesar da forte onda de críticas, há também quem defenda o adolescente, lembrando que ele ainda é menor de idade. “Cadê os pais dele? Por que ninguém mais se pronuncia? Ele parece estar sozinho nisso tudo”, questionou uma seguidora.
Em meio à pressão, Miguel fez um pronunciamento breve no último domingo (27), dizendo que está refletindo sobre os rumos de seu ministério.
“Quero lhes informar que segunda-feira à noite lançarei um pronunciamento oficial sobre minha posição. Orem pela minha vida, se puderem”, afirmou.
O jovem já havia relatado ameaças anteriores, como em março, quando recebeu um vídeo ameaçando-o de morte caso pregasse em Maringá (PR). Membro da Igreja Assembleia de Deus Avivamento Profético, em Carapicuíba (SP), ele percorre o país promovendo cultos com promessas de revelações e curas milagrosas.
Reflexão
O caso de Miguel Oliveira, assim como de muitos semelhantes, expõe uma realidade crescente e preocupante: a mercantilização da fé, especialmente nas redes sociais. Pastores, autointitulados profetas e até influenciadores digitais têm usado plataformas como Instagram e TikTok não apenas para evangelizar, mas, sobretudo, para gerar engajamento e monetização.
Por trás de campanhas “em nome de Deus” ou “para ajudar pessoas carentes”, muitas vezes está uma estrutura que visa lucro, com estratégias de marketing emocional e manipulação da fé alheia. A ausência de regulação e fiscalização favorece o surgimento de líderes religiosos cada vez mais jovens, despreparados e, em alguns casos, usados por terceiros em esquemas que misturam espiritualidade com negócio.
É preciso que as autoridades religiosas, jurídicas e, principalmente, os próprios fiéis estejam atentos para não confundir fé com exploração. O evangelho jamais pode ser um produto, nem o altar um palco para vaidade ou enriquecimento. Quando o sagrado é usado como fachada para arrecadação duvidosa, a linha entre o milagre e o golpe se torna perigosamente tênue.